Segundo Marcelo Toledo e Joel Silva do Jornal Folha de S.Paulo, a paisagem da zona rural na região de Ribeirão Preto é praticamente monocromática. Para qualquer lugar que se olhe, o cenário é o verde das lavouras de cana-de-açúcar por todos os lados.
Mas, se procurar bem, esse mesmo cenário “esconde” chaminés de antigas usinas ou mesmo prédios inteiros, totalmente inativos.
Seja por causa da crise, da mudança na regulamentação do setor ou mesmo por uma opção dos grupos sucroenergéticos, essas usinas de açúcar e etanol se tornaram estranhas á paisagem.
Há ao menos seis exemplos só na região de Ribeirão Preto, mais tradicional polo de produção de açúcar e etanol do país e autointitulada “capital do agronegócio”, que hoje não tem nenhuma usina moendo cana. A última que operou na área, a Galo Bravo, já não funciona há seis anos, desde uma aventura mal sucedida que teve o empresário Ricardo Mansur (ex-Mappin e Mesbla) no comando.
Então chamada Cerp (Central Energética Ribeirão Preto), teve falência decretada pela justiça há cerca de seis meses devido a uma dívida no valor de R$ 33 mil. Mansur foi gestor da companhia entre agosto de 2009 e julho de 2010 e acumulou disputas com a família Balbo, dona da Galo Bravo.
Hoje no local há apenas o “esqueleto” do prédio, ferrugem e mato alto.
Também em Ribeirão Preto, a Usina Perdigão, foi desativada há quase três décadas, mas mantém sua chaminé em meio as lavouras de cana.
A cerca de 60 Km de Ribeirão preto, em Jaboticabal, uma das mais recentes desativações é a da Usina São Carlos, em Jaboticabal, após a venda de ativos para o grupo São Martinho, em 2012, por um total de R$199,6 milhões.
A época, a São Martinho alegou que a sua principal unidade, em Pradópolis, tinha capacidade ociosa para processar o volume que era moído em Jaboticabal, num raio médio de 30 quilômetros de distância.
“A questão é que a mecanização, a tecnologia, atingiu não só as lavouras, mas também a parte industrial. O que antes era feito em dois ou três lugares passou a ser feito num só, e as usinas se interessam não pela parte física delas, mas pela cana”, afirmou Ignácio Bernardes, 82, membro da Pastoral do Migrante de Guariba.
A entidade atende cortadores que deixavam o norte de Minas e o Nordeste em busca de emprego no interior de São Paulo, fluxo drasticamente reduzido com o avanço da mecanização.
NOVA MIGRAÇÃO
A unidade de Jaboticabal é vigiada por seguranças e os prédios apresentam boas condições físicas. Antes dela, a Santa Luiza, em Motuca, foi fechada em 2007 após aquisição em conjunto por três grupos sucroenergéticos.
O cortador de cana João Pereira Mouta, 35, que deixou Crisópolis (BA) para morar em Serrana no início dos anos 2000, trabalhou tanto na São Carlos como na Santa Luiza. Ele afirma que se tornou comum a necessidade de migrar dentro da própria região em busca de emprego.
“Hoje ainda tenho emprego, mas não sei na próxima safra”, diz.
Em Sertãozinho, a Usina Albertina foi fechada após seis anos de processo de recuperação judicial. Outra unidade com dificuldades financeiras e que deixou de processar cana é a Nova União, em Serrana, cujas terras no entorno são alvo constante de invasões de sem-terra.
A situação, no entanto, não é exclusiva da região de Ribeirão. Em todo o país, pelo menos 60 usinas deixaram de moer cana nas últimas safras devido, entre outros fatores, ao endividamento do setor.
Há atualmente, segundo o sistema de acompanhamento da produção canavieira do Ministério da Agricultura, 380 usinas no país, das quais 48 na macrorregião de Ribeirão.
Matéria divulgada em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/07/1899524-usinas-de-cana-se-tornam-construcoes-fantasmas-no-interior-de-sao-paulo.shtml